quinta-feira, março 28, 2024
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Um artista de dois mundos, entre pichações e museus

por: Redação

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A arte de Rafael Augustaitiz está em toda parte. Nos muros de Barueri, nos prédios de SP, no Memorial da América Latina e até no New York Times

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Quem anda distraído por Barueri não percebe. Mas em vários pontos da cidade há uma misteriosa pipa desenhada, com uma longa rabiola e um desenho de caveira. É uma espécie de assinatura do artista plástico Rafael Augustaitiz, de 32 anos, que resume sua relação com a arte. O desenho nas paredes tem vários significados. O mais óbvio é que Rafael foi muito “pipeiro”, como ele diz, em sua infância na Aldeia. Ele também é um admirador da estética do brinquedo no céu. Mas o que fascina naquele objeto é o caráter contestador. “Ela é uma brincadeira, mas um perigo, é como a pichação, que é um divertimento, mas agride”, diz ele. 

A relação de Rafael com as tintas nasceu cedo. “Comecei a desenhar logo no pré”, lembra ele. Aos 14 anos, marcou encontro precoce com o realismo, estilo de pintura acadêmico baseado na observação da realidade e das pessoas comuns, com forte carga social. Os temas da grande arte trocavam os salões aristocráticos pelas ruas e fábricas. Os cetins e veludos davam lugar nas telas a pés descalços de lavradores e roupas surradas. Talvez por isso mesmo, o menino pintor também tenha abraçado a arte de rua, a pichação, o grafite, o protesto e o risco. Afinal, o realismo e a pichação são dois caminhos muito diferentes, mas com tanta coisa em comum.

Arte subversiva

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Rafael diz que fez o caminho ao contrário: começou no realismo e depois foi para a arte de rua

É assim que Rafael Augustaitiz, 32 anos, vem construindo sua carreira, sem barreiras, entre mostras coletivas, exposições individuais, escaladas de prédios, dias e dias diante de um muro. “Eu sou meio subversivo, fiz o caminho ao contrário. Primeiro, conheci o realismo, e depois, o grafite e a pichação”, resume.

O futuro artista plástico Rafael chegou a Barueri aos dois anos, vindo de sua terra natal, Presidente Prudente. Primeiro, morou na Aldeia, mas logo mudou-se para o Parque dos Camargos, onde descobriu que adorava desenhar.

As primeiras oportunidades que teve de mostrar seu trabalho foram no cinza do concreto. Ele trabalhou no projeto de embelezamento urbano que coloriu viadutos, muros e paredes de Barueri nos anos 1990. Também atuou em ações semelhantes no Rodoanel e na CPTM.

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Rafael no trabalho mais recente, concluído no fim de semana de 29 de maio,referência ao projeto de embelezamento da cidade realizado nos anos 1990, do qual o artista tomou parte

Nessa época, começou a chamar a atenção das pessoas e foi convencido pelo artista plástico também barueriense Guido Brito a fazer a Faculdade de Belas Artes. Lá, aperfeiçoou a técnica, estudou história da arte, mas seu trabalho de conclusão de curso foi justamente sobre o trabalho dos pichadores.

Eternamente no Memorial

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Peça realista para a celebração dos 25 anos do Memorial da América Latina: arte contestadora. Fotos: Divulgação

Ainda durante a faculdade, em 2007, ele foi um dos artistas convidados pela direção do Memorial da América Latina para participar das comemorações do centenário do arquiteto Oscar Niemeyer. As obras fazem parte do acervo permanente do Memorial. “Foi meu primeiro trabalho de porte, é o mais forte que eu já fiz, a cultura extrema”, conta. Em 2008, participou da 28ª e da 29ª Bienais de Arte de São Paulo.

Enquanto se aprofundava no realismo, sua atuação como grafiteiro o levou a ser protagonista em 2010 do documentário Pixo, da Fundação Cartier, de Paris, sobre a arte de rua no Brasil. “Escalei muito prédio de 30 andares.”

E em 2015, ele estava de volta ao Memorial para o evento 25 artistas, 25 anos do Memorial. Também participou da confecção de Etnias, obra coletiva permanente em homenagem aos índios brasileiros. São 57 peças em alto e baixo relevo em cerâmica, bronze e alumínio. Também no ano passado, trabalhou no projeto que celebrou os 120 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Japão, no Museu Municipal de Barueri. Recentemente, protagonizou a primeira mostra individual em Ilhabela, no litoral norte de São Paulo.

Mas, apesar do sucesso e reconhecimento, de ter aparecido em tantas reportagens, até no jornal The New York Times, a vida de artista brasileiro não é fácil, segundo ele conta. Mesmo participando de exposições regularmente, Rafael tem de fazer trabalhos de pinturas por encomenda para se manter. Também pinta espaços públicos. “No mundo da arte, a política fecha muitas portas”, desabafa. Segundo ele, é comum grupos tomarem as instituições. “Nesses casos, é difícil conseguir um espaço. Às vezes o sistema concede, às vezes, não”, explica.

A arte é quem manda

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Personagem de reportagem no jornal The New York Times sobre os artistas de rua de São Paulo

Rafael é um artista múltiplo. Faz escultura e gravura mas, principalmente, pintura. “Com a tinta, a gente faz de tudo”, diz. Filosoficamente, considera sua arte libertária. “Ela transcende o papel do certo e do errado, do bem e do mal.” Ele também relativiza o poder do artista sobre sua obra. “A arte está lá, o artista só liberta”, explica. E mesmo o caminho a ser seguido é ditado pelo trabalho que vai nascer. Ele pede para ser feito de uma determinada forma, com um determinado material, o autor tem que obedecer.

Além das pipas, Rafael produziu várias peças pelas paredes e muros de Barueri. Ele está no Museu Municipal, na Emei Alfredo do Carmo, num sobrado comercial ao lado da prefeitura,no terminal central e em muitos estabelecimentos comerciais. Sua mais recente contribuição ainda está fresquinha, no longo muro da rua José de Alencar, no Jardim Belval, onde mora atualmente. Ela foi concluída no último fim de semana (29/5) e é inspirada no projeto de embelezamento da cidade, realizado por um grupo de grafiteiros na década de 1990.

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