quinta-feira, março 28, 2024
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Cuidados quando se tem uma b..eta

por: Redação

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Chocada com o estupro coletivo no Rio, Nana Pequini relata sua experiência e fala da vulnerabilidade da mulher num mundo machista

Nana Pequini
Nana Pequini, é formada em História pela FFLCH-USP e em Arte Dramática pela EAD- ECA- USP. Foi professora de teatro das Oficinas Culturais de Barueri e diretora do Teatro Municipal. É dona de um vocabulário de 603 palavrões que utiliza no dia-a-dia. “Não sou de briga , mas não amenizo!”, sustenta.

Iria mandar para a coluna um texto que falava sobre a procura da verdade e a importância do distanciamento histórico para enxergar a realidade… Mas, algo surgiu gritante neste fim de semana. Aqueles 30 e a menina. Vendo o episódio e a repercussão, os comentários na tevê e principalmente no facebook, comecei a olhar para mim mesma e enxergar o quão é custoso ter uma b…eta.

Impressionante o poder da buceta! Aliás, do conjunto todo : buceta, peito e bunda! Acho que deveríamos fazer cursos de aprender a usar todo esse arsenal de armas! São capazes de fazer os homens perderem o cérebro, esquecer rumos, promessas…  E nos fazem correr atrás do corpo perfeito nos submetendo à academia, dietas, cirurgias , cintas e o que o mercado colocar à nossa disposição.

Ok.  Somos perigosas. Perigosas para nós mesmas e temos que tomar cuidado.  Tenho uma lembrança bem forte desse perigo.  Era pequena, não sei qual era a minha idade ao certo, entre 9 e 10 anos.  Era miúda, franzina, estava na porta da minha casa brincando com os cachorros, a Laika e o Filer.  A Laika era minha melhor amiga.  Vejo um cara na rua, ele está do meu lado na calçada. Olhei e temi. Não sabia porque, temi. 

Continuei a brincar.  Ele somente iria passar pela calçada. Eu não tinha  o que temer.  Eram 6 da tarde, hora da ave-maria. Talvez ele tivesse regressado do trabalho e estava me olhando pensando na filha que iria encontrar.  O que deveria temer.  Foi rápido. 

Ele me agarrou por trás numa gravata e enfiou a mão no meu corpo, passou pelos meus peitos (nem tinha!), enfiou a mão dentro do short e eu sentia o dedo e o pênis dele, duro! Ele me largou. Saí correndo chorando.  Se eu contasse para minha mãe talvez ela brigasse. Tomei banho. Muito banho. E sem maiores explicações, me enfiei onde a Laika dormia e chorei com ela. Afinal, era minha confidente e havia presenciado a cena.

Ora, dirão, que horror! Que homem mal!Não ! Ele foi o meu primeiro professor! Graças a ele aprendi o significado daquele olhar! E me ensinou a me blindar! Depois daquele episódio eu corria de homens que olhavam pra mim daquele jeito. E notei que não seria possível correr a vida toda. 

Quando se é maior, olhamos, identificamos o potencial de perigo e traçamos a estratégia. Hoje por exemplo, tenho um amigo de trabalho que é um cretino, vive com olhar de vou te comer toda. Ora, tô cagando pra ele. E já falei que irei arrebentá-lo se tentar algo.  Outro dia tentou quando me deu aquele abraçinho polvo para passar a mão na minha bunda… Briguei, lógico!  Aprendi com o meu primeiro professor de cultura do estupro. Não é lindo, como temos que viver , meninas?

As mulheres leitoras sabem do que eu estou falando… Todas já fugiram de alguém.Todas!  

Porque portar uma buceta é complicado. Não importa se somos virgens, vagabundas, casadas, solteiras, viúvas. O fato de ser mulher nos deixa vulneráveis ao desejo masculino. E… como controlá-los?

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