sexta-feira, abril 19, 2024
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A verdade sobre sequestros de crianças em Barueri e região

por: Redação

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Há cerca de 15 dias correm, pelas redes sociais e grupos de whatsapp, áudios, vídeos e posts afirmando: crianças estão sendo levadas por sequestradores. O BnR apurou cada uma das informações

Por Verônica Falco

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Boatos sobre sequestros de criança colocaram a grande São Paulo em alerta. Em Barueri teriam sido vários casos/Fotos: Luiza Trujillo/BnR

“Boa noite pessoal… então… patrulhamento aqui…Barueri…ocorrência…uma van branca…com duas mulheres dentro…não sabe dizer se tinha mais indivíduo… foi (sic) tomada duas crianças pelo Parque Viana… QSL” – Homem dando a entender ser GCM ou PM em 5/12/2016

“Pessoal, aqui é a Neia…olha, deixa eu falar uma coisa pra vocês…esse negócio de sequestro de criança…é a pura realidade…lá na Escola Pimentel acabaram de saber, agora, porque meu marido trabalha lá…que acabaram de sequestrar uma criança, agora, dos braços do pai…ali no Parque dos Camargos…perto da Padaria Cristiane…então, um alerta a todos…isso é muito sério mesmo…meu marido acabou de passar pra mim agora e pediu pra eu tá avisando o grupo, avisando o pessoal…isso é muito sério, eu já vou passar pra todo mundo tá…fiquem atentos…isso é muito sério…acabaram de meter um revólver na cabeça de um pai e arrancar a criança do braço dele…” – Voz de mulher em 11/12/2016

“Boa tarde galera…é o Mendonça que está falando…a gente ouviu, recebeu alguns áudios de zap, né…falando que tão raptando crianças…até então a gente acreditava e meio que desacreditava….achava que era só boato…como alguns sabem a gente transporta criança, tem uma van escolar..e ontem minha esposa se deparou com uma situação… uma mãe tava desesperada chorando…que em Barueri…próximo ao Jardim Silveira…que tinham raptado o filho dela…arrancaram dos braços dela, uma mulher e um cara, colocaram uma arma nela, puxaram, ela tentou lutar…eles arrancaram, entraram no carro e foram embora…tinha várias viaturas de polícia no local….teve um outro caso aqui numa escola que se chama Oswaldo…que fica na avenida Zélia…uma outra criança foi raptada…dois homens roubaram uma criança…é sério! Um pai acabou de ligar, que a gente transporta o filho dele…ele ficou preocupado porque um amigo dele estava indo buscar o filho e presenciou a situação…ele viu mesmo! Então o assunto é muito sério!…” – Homem que se identifica como motorista de veículo escolarem 11/12/2016

“…aqui quem fala é uma cliente da Lena, e não sei se vocês sabem, acabaram de levar uma criança na Padaria Cristiane…tá cheio de polícia lá…colocaram a arma na cara do pai…levaram a criança… foi exatamente agora…a polícia tá atrás dos desgraçados…” Mulher chorandoem 11/12/2016

 

O mês de dezembro começou agitado e tenso em Barueri. Esses são trechos de áudios que chegaram ao que circularam em grupos de whatsapp e, diante de descrições tão detalhadas e convictas, a população entrou em pânico.

Leia: Boato sobre sequestro de crianças espalha pânico

Aparentemente uma grande e sincronizada onda de sequestros estaria tirando crianças dos braços dos pais, sem qualquer impedimento e aos olhos de testemunhas, com a finalidade de retirar os órgãos das vítimas. Mas o que é verdade e o que é disseminação de informação não verificada?

No dia 9 de dezembro, avisado por fontes da polícia em Barueri, o BnR ficou sabendo: um pai teria presenciado a filha, de cinco anos, ser levada de dentro do próprio veículo por dois homens em outro carro, enquanto sacava dinheiro em um caixa eletrônico. Alertados, policiais e agentes da GCM imediatamente foram ao local e em pouco mais de meia hora o fato estava esclarecido: não houvera sequestro algum.

Leia: O que realmente aconteceu num suposto sequestro na avenida Zélia

No dia 13/12 uma prisão dava sinais de que os boatos poderiam ser verdade: segundo informações que circulavam, e eram amplamente compartilhadas nas redes sociais, um homem havia sido preso em flagrante ao tentar sequestrar um adolescente no Parque dos Camargos. Fotos do momento da prisão ilustravam as afirmações: o primeiro dos sequestradores havia sido preso. Entretanto, a apuração revelou que não se tratava exatamente de uma ação criminosa, de um sequestro, e que o suposto criminoso era um paciente de doença mental.

Leia: Rapaz com esquizofrenia é confundido com sequestrador de criança

Os casos que teriam acontecido em Barueri, Carapicuíba e Osasco

Nas reportagens publicadas sobre o tema no BnR, vários comentários nas postagens em rede social afirmavam enfáticas: há, sim, sequestros na região, em Barueri, em Carapicuíba e em Osasco. Todos com os mesmos detalhes do modo de agir, alguns com descrição de veículos e dos supostos sequestradores.

Em Carapicuíba, os relatos afirmavam que uma criança de cinco anos de idade havia sido levada do pai por um estranho. O Barueri na Rede ouviu o delegado Pedro Buk, responsável pela seccional da cidade. Ele contou que, na verdade, o que houve foi um incidente envolvendo pais separados e que, na companhia do pai, a criança soltou da mão dele e acabou dando a mão para um homem que estava por perto. “Localizei as partes na escola do Ariston, na escola Noronha, e conversei com pais e professores para esclarecer o que houve”, resumiu o delegado. Além desse incidente, não há qualquer caso oficial na cidade, seja na Polícia Civil, seja na Polícia Militar.

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O delegado é categórico ao afirmar que, caso haja qualquer testemunho, evidência ou caso que chame a atenção, as pessoas devem acionar as autoridades, registrar boletins de ocorrência. “Informações não confirmadas só geram pânico, em nada ajudam. A polícia, as autoridades estão aqui para atender à população, às pessoas. Mas é necessário que sejam comunicados oficialmente”, pede.

Já em Osasco, os boatos também dão conta de casos de sequestros, com agressões aos pais de crianças e testemunhas. Entretanto, procurado pelo BnR, o Batalhão de Polícia Militar da cidade apresentou o mesmo resultado: nenhum chamado, nenhuma ocorrência, nenhum registro oficial de casos que se assemelhem aos que correm, à solta, nas redes sociais.

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Marcelo Jacobucci, titular da DP de Barueri

Em Barueri, a reportagem procurou diretamente o delegado Marcelo Jacobucci, titular da Delegacia de Polícia da cidade. Marcelo assumiu há cerca de 15 dias a titularidade, vindo de Taboão da Serra. Já chegou ciente dos boatos. “Mesmo lá (em Taboão) já corriam essas informações. E até quando eu saí de lá, nenhuma pessoa havia procurado a polícia.” Já em Barueri, o delegado se colocou a par da situação e logo ficou sabendo que também aqui havia relatos da ação de supostos sequestradores. “O que há é a propagação do pânico, tanto aqui como lá não há nenhum caso”, afirmou.

O próprio delegado tem em seu celular um áudio, enviado por uma amiga, onde ela questiona, bastante abalada, sobre a veracidade do que tem circulado nas redes sociais. Moradora de São Bernardo do Campo, a comissária de bordo, mãe de uma criança pequena, cai no choro ao ser tranquilizada por Marcelo e diz: “obrigada por me devolver a tranquilidade, estava enlouquecendo com tanta gente dizendo dessa tal quadrilha”.

Casos na Grande São Paulo

O BnR também procurou a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP/SP) e a resposta dada foi de que, na Grande São Paulo, incluindo Barueri e região, não há qualquer relato de sequestros de crianças. A assessoria de comunicação da SSP/SP contou que a polícia, seja Civil ou Militar, só pode investigar casos denunciados, e não há qualquer denúncia relacionada aos fatos divulgados nas redes sociais.

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Na quinta-feira, 15/12, a secretaria divulgou nota oficial sobre os boatos. No dia seguinte, o próprio secretário de Segurança, Mágino Alves, voltou ao assunto num vídeo postado nas redes sociais sobre os rumores. “Não há nenhum sequestro em andamento no Estado de São Paulo”, afirma.

Para o professor Carlos Renato Lopes, autor de uma tese de doutorado pela USP sobre lendas urbanas na internet, “essas histórias são recorrentes e vira e mexe ressurgem com novos detalhes”. Carlos Renato enfatiza que as pessoas começam a saboreá-las como narrativas que vão ganhando versões. “Os atos de repercutir e complementar as histórias são facilitados pela internet”, ressalta.

Quem viu, quem testemunhou, quem conhecia

O BnR publicou, entre os dias 6/12 e 13/12, duas reportagens sobre o tema. Foram mais de 1,7 mil compartilhamentos e quase 200 comentários diretos na página do Facebook. Entre eles, vários leitores afirmavam ‘conhecer, ter ouvido ou saberem’ de casos, familiares e relatos de sequestros de crianças e garantiam, sempre com o mesmo método e objetivo.

Todos os leitores que fizeram afirmações na rede social do BnR foram procurados, por meio de mensagem, para que pudessem apontar as vítimas e ajudar com a apuração. A mensagem enviada, por inbox, no Facebook era:

“Nós, do Barueri na Rede, estamos procurando famílias de crianças que foram levadas para uma matéria denunciando isso. Você pode, por favor, nos indicar essas famílias que você conhece para entrarmos em contato. Manteremos total sigilo. Obrigado.”

A primeira mensagem foi enviada no dia 6/12. Mais de 20 pessoas que afirmaram, em seus comentários, conhecer famílias que tiveram alguma criança sequestrada, foram procuradas pela equipe do site.

Após mais de dez dias de apuração, nenhuma pessoa foi encontrada, nenhuma família foi localizada, nenhuma testemunha se apresentou ao BnR. As respostas obtidas giraram em torno de relatos e situações semelhantes, sempre remetendo a outras pessoas nunca identificadas.

Leia o que disseram ao BnR as pessoas que afirmavam saber de um sequestro: O retorno às solicitações da reportagem do BnR

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Mágino Alves. secretário de Segurança do Estado de São: não há qualquer sequestro

Entre todas as autoridades consultadas pelo BnR, existe a apreensão sobre as possíveis consequências decorrentes dos boatos. “É um perigo esses rumores serem associados a fotos, apontando pessoas e supostos sequestros de crianças”, afirmou Marcelo Jacobucci, delegado de polícia de Barueri.

Há um caso emblemático de consequências desastrosas de um episódio semelhante envolvendo o suposto sequestro de crianças. A dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, morreu dois dias após ter sido espancada por dezenas de moradores de Guarujá, no litoral de São Paulo. A agressão foi resultado de um boato publicado por uma página de uma rede social. A postagem afirmava que uma mulher com suas características físicas sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra.

Além disso, o delegado alerta que, dependendo do caso, os autores das falsas acusações podem incorrer nos crimes de difamação e ataque à honra.

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